Na sociedade moderna, é crescente o interesse em terapias alternativas e no uso terapêutico de produtos naturais. (Rates, 2001; Albuquerque & Hanazaki, 2006; Oliveira et al., 2007).
O uso da própolis como antibiótico, anti-infl amatório, antifúngico, antisséptico e cicatrizante, foi historicamente observado por sua elevada eficiência e eficácia, e relatado em diversos momentos da história da humanidade.
INTRODUÇÃO
Há relatos de que a própolis é utilizada há séculos e por diferentes povos, como os egípcios, para embalsamar seus mortos e evitar a putrefação dos corpos; pelos gregos e romanos, como agente antisséptico e cicatrizante; e pelos incas, como antipirético (Sforcin & Bankova 2011).
No Brasil, os índios utilizavam a própolis na fabricação de ferramentas e como dádiva em sepultamentos (Barth et al. 2009).
A palavra própolis é derivada do grego pro-, em defesa, e polis-, cidade ou comunidade, ou seja, em defesa
da comunidade (Pereira et al., 2002).
ORIGEM DA PRÓPOLIS
A própolis é um produto elaborado pelas abelhas com resinas de árvores, cera, pólen, fragmentos de vegetais e secreção própria (Ghisalberti, 1979; Marcucci, 1996). A própolis do arbusto alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia), conhecida também como própolis verde, é produzida dos ápices vegetativos desta planta (Bastos, 1998; Oliveira & Bastos, 1998; Bastos & Oliveira, 2000; Bankova et al., 1999; Park et al., 2002) que é invasora em várias regiões do Brasil. A própolis de alecrim-do-campo constitui, portanto, um produto tipicamente brasileiro e, devido ao fato de ser altamente eficaz no combate a uma série de microrganismos (Bastos, 2001; Park et. al., 2000; Marcucci et al., 2001; Pereira et al., 2002; Ferronatto et al., 2007; Longhini et al., 2007; Packer & Luz, 2007; Simões et al., 2008).
FUNÇÃO DA PRÓPOLIS NA NATUREZA
A própolis é produzida pelas abelhas para as mais variadas funções na colmeia, como para o preenchimento das frestas, diminuição das aberturas de entrada e saída da colmeia e mumificação de cadáveres de insetos para impedimento de sua decomposição e putrefação.
É utilizada também para cobrir as paredes internas da colmeia e interior das células para defendê-las dos micro-organismos, além de reparar os favos estragados e consolidar os favos móveis (GHISALBERTI, 1979). É conhecida por suas propriedades biológicas tais como: antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória, imunomodulatória, hipotensiva, cicatrizante, anestésica, anticâncer, anti-HIV e anticariogênica (PARK et al., 2002).
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA PRÓPOLIS
Os flavonóides, juntamente com ácidos fenólicos e ésteres, aldeídos fenólicos e cetonas são considerados os mais importantes compostos antimicrobianos da própolis. Outros compostos são óleos voláteis e ácidos aromáticos (5 a 10%), ceras (30- 40%), resinas, bálsamo e pólen que é uma rica fonte de elementos essenciais como magnésio, níquel, cálcio, ferro e zinco (CASTALDO & CAPASSO, 2002, PIETTA et al., 2002). O mecanismo de atividade antibacteriana é considerado complexo e pode ser atribuído ao sinergismo entre flavonóides, hidroxiácidos e sesquiterpenos (KROL et al.,1993).
A proporção destas substâncias presentes na própolis é variável em função do local e da época de coleta da mesma (STEPANOVIC et al., 2003). Portanto, a origem geográfica da própolis é importante no controle de qualidade inclusive para sua efetiva aplicação terapêutica (PARK et al., 2002).
PROPRIEDADES BIOLÓGICAS
A própolis tem sido objeto de estudos farmacológicos devido às suas propriedades antibacteriana, antifúngica, antiviral, anti-inflamatória, hepatoprotetora, antioxidante, antitumoral, imunomodulatória, entre outros (Bankova, 2005a; Kosalec et al., 2005; Alencar et al., 2005; Simões et al., 2008). Esse potencial biológico se deve a um sinergismo que ocorre entre os muitos constituintes (Marcucci, 1996). et al., 2005; Simões et al., 2008). Esse potencial biológico se deve a um sinergismo que ocorre entre os muitos constituintes (Marcucci, 1996).
A AÇÃO ANTIMICROBIANA DA PROPOLIS
A propriedade antimicrobiana da própolis é amplamente relatada, sendo destacada sua ação sobre Staphylococcus aureus (FERNANDES JUNIOR et al., 1995, 1997, 2001 e 2003; PINTO et al., 2001); Streptococcus pyogenes (BOSIO et al., 2000); Candida sp (SFORCIN et al., 2000; STEPANOVIC et al., 2003) e sobre inúmeros outros microrganismos (BANSKOTA et al.,2001).
Foi verificado também que bactérias Gram positivas se mostram mais sensíveis que as Gram negativas aos extratos de própolis (PINTO et al., 2001). São atribuídas principalmente à flavonona pinocembrina, ao flavonol galagina e ao éster feniletil do ácido caféico, com um mecanismo de ação baseado provavelmente na inibição do RNA-polimerase bacteriano (Uzel et al., 2005). Outros componentes como os flavonóides, o ácido caféico, ácido benzóico, ácido cinâmico, provavelmente agem na membrana ou parede celular do microorganismo, causando danos funcionais e estruturais (Scazzocchio et al., 2005). Estudo realizado com extratos de própolis comercializados no Brasil mostrou atividade antimicrobiana pronunciada contra bactérias Gram-positivas, e atividade menos evidente contra Gram-negativos (Rezende et al., 2006; Packer & Luz, 2007).
A própolis também tem demonstrado excelentes atividades fungistática e fungicida, em testes in vitro contra leveduras identificadas como causadores de onicomicoses (Oliveira et al., 2006; Longhini et al., 2007).
Diversos trabalhos tem relatado ao longo de vários anos de pesquisa a atividade sinérgica da própolis associada a diversos antibióticos, inclusive contra cepas resistentes a benzil penicilina, tetraciclina e eritromicina (Shub et al., 1981), esses e outros autores concluem que a própolis possui ação sinérgica relevante, podendo se constituir como alternativa terapêutica para a resistência microbiana, porém dependente de sua composição (Stepanovic et al., 2003; Fernandes Jr. et al., 2005; Onlen et al., 2007).
A PROPRIEDADE ANTI-INFLAMATÓRIA DA PROPOLIS
A atividade anti-inflamatória observada na própolis parece ser devida à presença de flavonóides, especialmente galangina. Este flavonóide apresenta atividade inibitória contra a ciclooxigenase (COX) e lipooxigenase. Tem sido relatado também que o ácido fenil éster caféico (CAPE), possui atividade anti-inflamatória por inibir a liberação de ácido aracdônico da membrana celular, suprimindo as atividades das enzimas COX-1 e COX-2 (Borrelli et al., 2002). A própolis tem demonstrado ação anti-inflamatória também por inibir a síntese das prostaglandinas, ativar a glândula timo, auxiliando o sistema imune pela promoção da atividade fagocítica e estimulando a imunidade celular (Kosalec et al., 2005).
AÇÃO ANTIOXIDANTE DA PROPOLIS
A atividade antioxidante merece especial interesse, pois a própolis poderia ser aplicada topicamente com sucesso para prevenir e tratar a pele danificada (Marquele et al., 2006). Flavonóides são relatados como os mais abundantes e efetivos antioxidantes na própolis. Da Silva et al. (2006) sugerem que os flavonóides desempenham importante papel na atividade antioxidante de extratos de própolis brasileira, mas outros fatores poderiam estar envolvidos (Choi et al., 2006). Embora estudos com extratos etanólicos de própolis sejam mais comuns, é relatado que o extrato aquoso possui uma boa atividade antioxidante, associada ao alto teor de compostos fenólicos (Mani et al., 2006; Vicentino & Menezes, 2007).
PROPOLIS COMO CICATRIZANTE
A propriedade cicatrizante da própolis, assim como várias outras propriedades biológicas, está relacionada com flavonóides e ácidos fenólicos (Arvouet-Grand et al., 1994). Em estudo comparado da propriedade cicatrizante de um creme de própolis com um de sulfadiazina de prata, foi demonstrado que os ferimentos tratados com própolis apresentaram menos inflamação e mais rápida cicatrização do que aqueles tratados com sulfadizina de prata (Gregory et al., 2002).
A ATIVIDADE IMUNOMODULATÓRIA DA PROPOLIS
Sy et al. (2006) demonstraram que o tratamento com extrato de própolis atenua as inflamações das vias aéreas em ratos, provavelmente por sua habilidade em modular a produção de citocina. Sendo assim, seria um novo agente no tratamento da asma. Orsolic et al. (2004) demonstraram que derivados hidrossolúveis de própolis, ácido caféico e quercetina poderiam ser extremamente úteis no controle do crescimento tumoral em modelos experimentais. Nos últimos anos muitos estudos tem demonstrado a atividade da própolis no sistema imunológico (ativando macrófagos, aumentando a atividade lítica contra células tumorais, estimulando anticorpos, etc) como apresentado numa extensa revisão realizada por Sforcin (2000), todavia, cita que os mecanismos envolvidos na quimio prevenção ainda não são completamente conhecidos.
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